Motores radiais rotativos: como funcionavam?
Motores radiais rotativos: como funcionavam?
O motor rotativo é um tipo de motor
radial, de ciclo Otto, cujo eixo de manivelas é estacionário e fixado ao
berço do motor, enquanto o conjunto de cárter e cilindros gira ao redor
dele. A hélice era fixada diretamente no cárter e girava junto com o
mesmo.
Os
motores radiais rotativos foram desenvolvidos pouco antes e durante a
Primeira Guerra Mundial. Nessa época, a maioria dos motores necessitava
de um volante de inércia, para garantir suavidade no funcionamento,
evitando trancos ao girar. Os volantes acrescentavam, entretanto, um
peso morto considerável ao motor. Outro problema dos motores dessa época
era a refrigeração insuficiente, pois os aviões tinham baixa
velocidade, o que limitava muito o fluxo de ar de refrigeração.
Quando foram criados, os motores
radiais rotativos se constituíram em uma eficiente solução técnica para
equipar aviões, em razão da boa relação peso-potência, da suavidade de
funcionamento e da boa refrigeração, que era mantida mesmo com o motor
funcionando em marcha lenta no solo. Eram considerados motores muito
confiáveis, o que tornou-os ideais para equipar aviões militares durante
a Primeira Guerra Mundial.
Diversos problemas tiveram que
ser resolvidos, entretanto, para que o motor fosse viável. A
alimentação era um dos principais, pois o carburador não poderia ficar
girando com os cilindros. A solução encontrada foi a utilização de eixos
de manivelas ocos, que serviam de passagem para a mistura
ar-combustível do carburador até janelas abertas no eixo e no cárter.
Dessas janelas, a mistura chegava ao cilindro, atraves de válvulas de
admissão ou por janelas abertas no cilindro pouco acima do ponto morto
inferior.
A
solução de usar janelas de admissão, ao invés de válvulas, foi usada
nos motores Gnôme Monosoupape (monoválvula, em francês), e foi muito bem
sucedida, pois possibilitou a eliminação de várias peças móveis,
facilitando o balanceamento e aumentando a confiabilidade dos motores.
Os motores de uma válvula por cilindro (fotos acima e abaixo) foram
considerados como "um dos maiores avanços na aviação" pelo fabricante de
aeronaves britânico Thomas Sopwith.
Os
motores Monosoupape não tinham, na verdade, carburadores ou
aceleradores. O controle do motor era feito através da regulagem da
pressão de combustível. Bombas de ar pressurizavam o tanque, garantindo
um fluxo uniforme de combustível ao motor. Todavia, o controle de
velocidade do motor era bastante limitado.
A
lubrificação do motor também se constituiu em um problema, pois o
cárter servia frequentemente como caminho para a passagem da mistura
para os cilindros, como ocorre nos motores atuais de dois tempos. A
solução encontrada foi semelhante à utilizada nos motores dois tempos,
ou seja, o lubrificante era adicionado à gasolina. Como os óleos
minerais da época eram inadequados, utilizava-se o óleo de rícino, pois
esse dissolvia-se mais lentamente no combustível, o que garantia uma
apropriada lubrificação dos componentes móveis. Uma bomba de óleo
fornecia o lubrificante à mistura ar-combustível pouco antes da mesma
ser fornecida ao motor, para evitar sua diluição excessiva.
Um dos defeitos dos motores
rotativos era o seu alto preço. A construção era de alta precisão, para
garantir um bom balanceamento do conjunto de cárter e cilindros. Um
motor Gnôme de 100 HP de 1916 custaria, em valores de hoje, o
equivalente a 70 mil dólares americanos.
Os motores rotativos, em sua
maioria, eram do tipo radial, mas outras configurações foram usadas, e
existiu até mesmo um motor rotativo monocilíndrico. Nos radiais, um
número ímpar de cilindros era geralmente usado, de forma que sempre
havia um cilindro em tempo motor. Embora raros, alguns motores rotativos
tinham duas carreiras (estrelas) de cilindros (foto abaixo, do motor
alemão Oberursel U.III).
Embora
a potência por cilindrada fosse relativamente baixa, a potência por Kg
de massa era elevada, chegando a um HP por Kg de massa do motor. Os
motores radiais rotativos forneciam geralmente 50 a 160 HP de potência,
dependendo da cilindrada e do número de cilindros.
Os motores Clerget e Le Rhône utilizavam duas válvulas em cada cilindro, ao contrário dos Gnôme Monosoupape.
No início dos anos 1920, os
motores rotativos caíram subitamente em desuso, principalmente devido às
limitações na alimentação através dos eixos de manivela. Os motores
radiais com eixos rotativos e os motores de cilindros em "V" rapidamente
os susbstituíram no período entre as duas Guerras Mundiais.
Os motores rotativos não
equiparam apenas aviões. Alguns fabricantes de motocicletas instalaram
motores radiais rotativos no centro da roda de seus veículos. Na foto
abaixo, pode-se ver uma motocicleta Felix Millet de 1897. Felix Millet
foi, na verdade, o pioneiro no uso dos motores rotativos, em 1888.
As
motocicletas alemãs Megola, produzidas entre 1921 e 1924, possuíam
motores radiais Monosoupape de 5 cilindros e 14 HP instalados no meio da
roda dianteira. Essa estranha e interessante motocicleta é um dos mais
raros veículos, pois apenas 10 exemplares ainda existem.
Alguns
carros também foram equipados com motores rotativos, como um De
Dion-Bouton de 1899, que recebeu um motor rotativo de 4 cilindros,
concebido para uso aeronáutico, mas que nunca equipou nenhum avião, pelo
simples fato de que ainda não existiam aviões nessa época.
Comentários
Postar um comentário