A AVIAÇÃO NAVAL PORTUGUESA - UMA DAS PRECURSORAS DA FAP
“Relembrar
o passado para fortalecer o presente e pensar o futuro”
Assim,
indo um pouco mais atrás que anteriores voos aqui no nosso Blog onde já se
escreveu sobre os nossos precursores Especialistas na era FAP, até um pouco
mais atrás e onde relatei o encontro com o Capitão Artur Lemos meu instrutor no
curso de especialistas MMA em 1979/80 na BA2 Ota na disciplina de Tecnologias e
que é do tempo da Aviação Naval. Alistou-se voluntário para Mecânico de Avião
da Aviação Naval Portuguesa, tendo iniciado a sua carreira no Centro de Aviação
Naval de Aveiro, Escola de Aviação Naval Gago Coutinho, São Jacinto,
posteriormente Base Aérea nº7.
Hoje, lembrando
a frase acima referida, gostaria de ir ainda um pouco mais atrás e trazer
alguma informação sobre um dos ramos ancestrais da “nossa” Força Aérea
Portuguesa. Neste caso a Aviação Naval.
A
partir de
um texto do Comandante Vilhena e de algumas fotografias com várias
origens, publicados
na página “Aviação Naval Portuguesa/Portuguese Navy Aviation” no
Facebook, tentei juntá-los e aqui partilho convosco essa compilação
de parte da história
da Aviação Portuguesa. Agradeço desde já aos administradores dessa
página e a todos os que contibuíram com estes valiosos documentos.
“AVIAÇÃO
NAVAL PORTUGUESA/PORTUGUESE NAVY AVIATION
Aviação Naval |
A Aviação
Naval nasceu em 1917 e foi extinta em 1952.
Em
28 de Setembro de 1917, pelo Dec. 3395, foi criado o Serviço de Aviação da Armada com
a Escola anexa, subordinada à Majoria General da Armada. Esta decisão
governamental deveu-se, em grande parte, à iniciativa do Comandante Sacadura
Cabral, já então brevetado como aviador-naval, e sendo o verdadeiro inspirador
e impulsionador da nascente Aviação Marítima, depois designada Aeronáutica
Naval.
Em
27 de Maio de 1952 foi publicada a Lei n.º 2055, estabelecendo a estrutura orgânica
do recentemente criado Subsecretariado de Estado da Aeronáutica, prevendo-se a
unificação das Forças Aéreas (do Exército e da Marinha), na dependência desse
departamento governamental.
Em
01 de Janeiro de 1953 já não existia Aviação Naval como ramo da Marinha de Guerra.
(...).
OS
CENTROS OPERACIONAIS DA AVIAÇÃO NAVAL
O Decreto
que criou o Serviço de Aviação da Armada previa o estabelecimento de Centros de
Aviação Marítima, subordinados a um Director, na dependência da Majoria General
da Armada. O Comandante Sacadura Cabral foi encarregado de estudar a
localização de um Centro na região de Lisboa, tendo seleccionado a zona do
Alfeite, beneficiando do excelente espelho de água do Mar da Palha e utilizando
terrenos do Estado para as infra-estruturas. Porém não foi possível ocupar essa
posição privilegiada, tendo-se então optado pela utilização da Doca do Bom
Sucesso, a título provisório.
Centro de Aviação Naval de Lisboa - Doca do Bom Sucesso |
FBA |
A
situação provisória do Centro do Bom Sucesso manteve-se até à extinção da
Aviação Naval em 1952. Apesar disso, e não obstante a modéstia das suas
instalações e equipamentos, e das desfavoráveis condições do rio para as
operações de descolagem e amaragem, o Centro do Bom Sucesso adquiriu, ao longo
dos anos, uma aura de Base-mater da Aviação Naval. Isto, porque ali operaram os
nossos pioneiros – pilotos-aviadores, mecânicos, artífices – e ali foram
recebidos outros pioneiros da aviação mundial. E foi no Bom Sucesso que se
planearam e dali partiram alguns dos voos mais notáveis da nossa Aviação. Até
1935 funcionou também no Bom Sucesso a Escola de Aviação, embora com actividade
intermitente. Naquele ano foi transferida para S. Jacinto. Embora sem grandes
planos operacionais por falta de orientações estratégicas a alto nível, e com
meios aéreos modestos ou inadequados, o Centro do Bom Sucesso merece permanecer
na memória histórica em posição privilegiada, por estar ligado às origens e a
factos relevantes da Aviação Naval.
Quando
Portugal foi envolvido na 1ª Grande Guerra em 1916, devido à declaração de
guerra pela Alemanha, os governos português e francês acordaram em estabelecer
bases aéreas para vigilância anti-submarina das nossas costas.
Dos
estudos efectuados, resultou o estabelecimento de um centro em S. Jacinto,
guarnecido pela Aeronavale francesa, a que foi atribuída a vigilância para
norte de S. Martinho do Porto, ficando toda a restante costa a cargo do nosso
Centro do Bom Sucesso, equipado com hidroaviões Tellier e DD8. Admitiu-se ainda
a possibilidade de um outro Centro na Ilha da Culatra, vigiando a costa
algarvia. Embora tivessem sido aí construídas algumas instalações, não chegaram
a ser utilizadas operacionalmente.
Centro de Aviação Naval de Aveiro - São Jacinto |
Tellier T-3 Foto: |
Donnet-Denhault DD8 |
Após o
armistício, o Centro de S. Jacinto foi entregue pelo comando francês à Aviação
Marítima portuguesa, em Dezembro de 1918. Em 1935, a Escola de Aviação que
funcionava no Centro do Bom Sucesso foi transferida para S. Jacinto, com a
designação de Escola de Aviação Naval Almirante Gago Coutinho. A partir de
então, desenvolveram-se e aperfeiçoaram-se os cursos de pilotos-aviadores,
engenheiros, mecânicos e artífices de aviação. A instrução de descolagens e
amaragens era efectuada na ria da Torreira, beneficiando da maior área de
manobra. Alguns anos depois, iniciou-se a construção de um campo de aviação
contíguo ao Centro de S. Jacinto, tendo passado a ser aí executada uma parte da
instrução de pilotagem em aviões de rodas
A partir
dos anos 40, a Escola, além da ampliação de toda a sua infra-estrutura, foi
alvo de uma dinâmica de modernização, que lhe permitiu atingir um elevado nível
de eficiência e qualidade.
Na fase
final da existência da Aviação Naval, foi estabelecida em S. Jacinto uma
unidade anti-submarina (A/S) constituída por 12 aviões Curtiss Heldivers,
coexistindo com as actividades da Escola. Esta unidade A/S, operando como força
de cooperação com as forças navais, atingiu excelente nível organizativo e operacional,
merecendo elogios de entidades americanas ligadas à NATO.
Curtiss SB2C5 Helldiver - Pilotado pelo Cmdt Cyrne de Castro durante a visita do Presidente do Brasil, em 1955. Terreiro do Paço, com as tropas em formatura. |
Curtiss SB2C5 Helldiver - Bombardeiro de Mergulho |
Curtiss SB2C5 Helldiver - 1º Cabo Mecânico de Avião Rogério Horta dos Santos - CAN Aveiro, 1951 Foto: Cedida pelo seu filho, Francisco Santos. |
Em 1927,
por necessidade de vigilância das águas territoriais, face à pirataria e às
contingências da guerra civil na China, foi estabelecida uma Secção da Aviação
Naval em Macau subordinada ao Chefe dos Serviços de Marinha. Três hidroaviões
Fairey (incluindo o F – 17 Santa Cruz) ficaram baseados na Ilha da Taipa,
efectuando voos de reconhecimento até à extinção dessa unidade em Abril de
1933.
Centro de Aviação Naval de Macau - Porto Exterior |
Fairey III D |
Em 1937,
face à situação criada pela invasão da China pelos japoneses, foi decidido
reforçar a defesa de Macau, incluindo o restabelecimento da vigilância aérea.
Foi enviado o aviso de 1ª classe Afonso de Albuquerque com o seu avião Osprey,
levando também o análogo do Bartolomeu Dias. Em 1938 foi formalmente criado o
Serviço de Aviação de Macau, tendo-se estabelecido o quadro do pessoal e
adquirido mais 4 hidroaviões Osprey, perfazendo uma esquadrilha de 6 idênticos.
Aviso Afonso de Albuquerque com o seu avião OSPREY |
É de
referir que o hangar que havia sido construído no Porto Exterior, viria a ser
bombardeado por aviões americanos em Janeiro, Fevereiro e Junho de 1945,
alegadamente por suporem estar o território ocupado pelos japoneses. Em 1950,
reconhecendo o erro, o Governo dos EUA indemnizou Portugal num montante
superior a 50 milhões de USD.
Em 1918,
ainda em tempo da 1ª Grande Guerra, foi considerado necessário estabelecer
serviços aéreos nos Açores, não só para a vigilância das águas territoriais,
mas também para apoio à navegação transatlântica, mediante assistência
radiotelegráfica e meteorológica. Relativamente ao serviço aéreo, planeou-se a
instalação de um Centro em Ponta Delgada, tendo-se adquirido nos EUA 4
hidroaviões Curtis-HS, e um grande hangar metálico, que veio desmontado, com
todas as peças devidamente marcadas para a subsequente montagem. Mas este
material, desembarcado em Ponta Delgada em 1919 (já finda a guerra), quedou-se
por largo tempo sujeito à intempérie, tendo enferrujado e perdido as marcas de
montagem.
Centro de Aviação Naval dos Açores - Ponta Delgada |
Curtiss HS-2L Foto: |
A
história deste hangar atingiu então o seu ponto rocambolesco. As peças estavam
todas desordenadas, sem marcas e sem plano de montagem. Contratada uma empresa
de construção do Porto, esta limitou-se a construir as fundações, desistindo do
restante trabalho, face ao enigma que se lhe apresentava. Então, o Eng.º
Pereira Bastos, em serviço em S. Jacinto, pondo à prova as especiais capacidades
individuais dos portugueses perante situações destas, mais a lucidez da sua
própria inteligência, abalançou-se a resolver o “puzzle”. Com a ajuda de um
carpinteiro e um serralheiro, lançou-se na reprodução em cartão de todas as
peças do granel, uma a uma, em escala reduzida. Seguidamente, ensaiou-se a
montagem, procurando a sequência e correlação das peças, até se conseguir
completar uma maqueta em miniatura. A partir daí com a ajuda de mais dois
sargentos e meia dúzia de marujos, procedeu-se à montagem do hangar, com 40m de
vão, 60m de comprimento e 20 de altura (o maior da Península Ibérica), que
ficou pronto em 4 messes! Em 1941, no decurso da 2ª Guerra Mundial, foi
novamente instalado em Ponta Delgada o Centro de Aviação Naval dos Açores (CANA),
para vigilância das águas territoriais.
Este
Centro foi equipado com hidroaviões Grumman G-21 e Widgeon G-44 anfíbios, estes
sem poder militar e com pequeno raio de acção. Os voos de reconhecimento com
estes aviões limitavam-se às águas do grupo oriental das ilhas. Com os G-21
efectuaram-se dezenas de voos mais longos em busca de náufragos dos navios
torpedeados. Em 1946, terminadas as missões de tempo de guerra, o Centro de
Aviação Naval dos Açores foi encerrado, regressando a Lisboa todo o pessoal e
material de voo.
Grumman G-21 B Goose |
Grumman G-44 Widgeon |
Em 1943,
como compensação de apoios prestados no contexto da nossa “neutralidade
colaborante”, a Inglaterra forneceu a Portugal, para reforço do equipamento
aeronaval, 16 aviões Blenheim, bimotores bombardeiros, de rodas.
Bristol Blenheim MK V |
A
recepção deste equipamento implicou a instalação de uma infra-estrutura mais
que modesta na Portela de Sacavém, ficando essa unidade designada por
Esquadrilha B. Os aviões eram já muito usados, criando constantes problemas aos
mecânicos e preocupações em voo aos pilotos. A agravar esta situação, os
bimotores Oxford, para instrução avançada, só foram entregues posteriormente,
pelo que os pilotos foram forçados a aceitar esta inversão de tarefas e
enfrentar todas as dificuldades da operação dos Blenheim sem a devida preparação.
Mais
tarde, ainda dentro das referidas compensações da colaboração portuguesa, foram
recebidos na (malfadada) Esquadrilha B, 17 bimotores bombardeiros Beaufighter,
já usados e tão mal tratados como os anteriores. Estes últimos chegaram mesmo a
registar um grave acidente, fatal para 3 tripulantes.
Tudo isto
caracteriza a Esquadrilha B como a mais lamentável situação histórica da
Aviação Naval.
Bristol Beaufighter TF MK X |
Por: João Carlos Silva
Este texto e respectivas fotografias foi por mim construído e publicado em especialistasdaba12.blogspot.pt em 29 de Setembro de 2013, a partir das fontes aí mencionadas. Lamento que aqui não seja feita essa identificação, tanto do autor como do blog onde a mesma foi originalmente publicada.
ResponderExcluirBoas
ExcluirInformo-o já esta mencionado o nome do autor do referido artigo que faz menção. Contudo agradeço o seu reparo
Cumprimentos