Os irmãos Wright, Curtiss, e outros

Os irmãos nasceram respectivamente em Milville (Estado de Indiana) e Dayton (Estado de Ohio), filhos de um pastor da Igreja da Irmandade Unida em Cristo, que pregava em diferentes cidades.

Ambos concluíram os estudos secundários, mas não foram adiante em cursos superiores. Wilbur cuidava de sua mãe e ajudava o pai em suas discussões teológicas, enquanto Orville abriu, em 1889, uma gráfica, à qual Wilbur se associou. Os irmãos permaneceriam solteiros por toda a vida.

Em 1892, abriram uma oficina para conserto e venda de bicicletas e, quatro anos depois, estariam fabricando sua própria marca. O ano especial para eles foi 1896, quando entraram em contato, provavelmente por meio de jornais e revistas, com as experiências que estavam sendo feitas na Europa, especialmente por Otto Lilienthal. Embora ambos tenham sempre se apresentado como inventores, a iniciativa, até 1899, estava com Wilbur.

De Lilienthal, veio a ideia de controlar o voo por meio de asas deformáveis, dirigindo a aeronave da mesma forma que um ser humano se manteria equilibrado sobre uma bicicleta, pela inclinação do corpo. Assim, os Wright se dedicaram à construção de planadores, antes de atacar o problema da propulsão. Em 1900, os irmãos já pilotavam planadores com sucesso, usando asas deformáveis nas extremidades e com cambagem (curvas e não planas com asas usadas por outros estudiosos na época). Apesar de alguns bons voos, de até 120 m, eles não estavam satisfeitos e, em 1901, construíram um pioneiro túnel de vento, para testar aeronaves em miniatura. Os testes levariam a planadores melhores e a voos de até 190 m, em 1902.

Sua experiência pioneira teria acontecido em 17 de dezembro de 1903, porém sem testemunhas. Muitos outros reivindicam a primazia do voo, mas questões como testemunho de experts, dificuldade de comunicação e a própria definição de o que seja um avião dificultam o caso. Por exemplo, os irmãos Wright teriam tido sucesso, mas sua aeronave, por não ser capaz de decolar sozinha, não se encaixaria na definição de "avião". Nesse caso, cabe a Alberto Santos Dumont em 1906 o primeiro voo em público com um aparelho mais pesado que o ar, que decolou sem ajuda externa.

Os testes serviram para que eles se familiarizassem com o controle, a aerodinâmica e o formato da aeronave (eles seriam até 1910 partidários do formato "canard", com as asas montadas atrás e os elevadores à frente, como viria a ser o 14-bis). O voo pioneiroviria com Orville voando 37 m em 12 segundos e, em seguida, com Wilbur voando 53 m. Destes voos existem fotos, mas não testemunhas certificadas.

Diferentemente de outros competidores pelo primeiro avião, os Wright não eram ricos, nem tinham financiamento, seja privado, seja estatal. Isso explicaria seu segredo, a fim de que pudessem assegurar patentes que lhes rendessem proventos no futuro. Os voos das aeronaves Flyer 2 e Flyer 3 durante os anos de 1904 e 1905 só eram fotografados por um dos irmãos, enquanto o outro pilotava. Nos dois anos seguintes, eles não voaram e se dedicaram a negociações com o Exército norte-americano. Enquanto isso, suas alegações de que podiam voar até 37 km soavam falsas, especialmente na Europa, o que só se dissipou quando Wilbur fez uma demonstração pública do invento em Le Mans, França, em agosto de 1908.

Só anos depois que o Exército americano aceitou o aparelho dos irmãos Wright, em 1909 o governo dos Estados Unidos passou a considera – los inventores do aeroplano, questão sobre qual há controvérsias, reiterando que para brasileiros e franceses a primazia documentada cabe a Alberto Santos – Dumont.

Os anos posteriores foram de luta por patentes, especialmente com Glenn Curtiss, que fabricava aeronaves usando os ailerons, que seriam invenção dos Wright. A Curtiss-Wright, que viria depois de intensas lutas judiciais, só se formaria em 1929. Mas os anos gastos, especialmente por Wilbur até sua morte, nessas querelas legais, fizeram com que os Wright se atrasassem em relação a outros inventores e o desenho do Flyer logo seria ultrapassado, para não mais retornar às cogitações da indústria aeronáutica.