Ver os aviões...



Completamente por acaso, encontrei hoje no Observador umas imagens antigas de Lisboa. Esta, em particular, trouxe-me uma recordação da minha infância, e do tempo em que o aeroporto tinha uma varanda sobre a pista, onde íamos muitas vezes só para ver os aviões a aterrar ou a levantar voo. Era uma emoção embrulhada numa aura de mistério e aventura, com aquele sabor amargo e doce, misto de nostalgia e anseio que têm todos os locais de partida e chegada.
Depois, também por acaso, ou talvez não, encontrei um texto da Alexandra Prado Coelho, no * Público, já antigo, (de Maio de 2013) sobre esses passeios das tardes de Domingo  para ver aviões. Ela fala dos finais dos anos 40. Eu não sou assim tão antiga, mas vinte e muitos anos depois da data que ela  refere, o hábito persistia entre os lisboetas.
Não é uma questão de saudosismo, é apenas uma lembrança do tempo em que as tardes de Domingo se passavam preferencialmente ao ar livre, e não na atmosfera deprimente e asfixiante de um qualquer "Centro Comercial".
(...) Houve um tempo em que o passeio preferido dos lisboetas era até ao novíssimo Aeroporto da Portela. Aí existia uma esplanada com vista para a pista, onde quem não podia partir via os aviões levantar voo e, provavelmente, sonhava com o dia em que viajaria num deles.
 (...) quando entro hoje no aeroporto fico a pensar como ele, de certa forma, se virou para dentro. As esplanadas são interiores e delas já não vemos os aviões a levantar voo. Por isso regresso ás fotos do restaurante de grandes janelas voltadas para a pista (...) Era o tempo em que passávamos tardes de domingo a ver chegar e partir aviões.

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