Este monstro está à venda e tem motor de avião

Integrou a lista dos recordes do Guinness em 1977, como o carro mais potente do mundo, e já foi processado pela Rolls-Royce. Mas este veículo com motor de avião e 27.000 cc pode ser seu.



Há automóveis mais bonitos e há, decididamente, modelos mais elegantes. Mas poucos impressionam tanto como The Beast, o veículo de que apenas foi construída uma unidade em 1972. Esta espécie de carrinha de três portas possui uma frente descomunal, necessária para acomodar o motor que, em 1977, lhe permitiu conquistar o título do carro homologado para circular na via pública mais potente do mundo, atribuído pelo Guinness Book of World Records.

Originalmente, The Beast foi concebido como um Scimitar em ponto grande, depois de anos de ginásio e muitos esteróides. Acabaria por ser construído por Paul Jameson em 1966 e, por necessitar do motor mais possante entre os disponíveis, optou pelo V12 Meteor, um motor com 27 litros de capacidade produzido pela Rolls-Royce para os tanques de guerra britânicos da II Guerra Mundial, unidade que fornecia 650 cv e um binário assustador. Como seria de esperar, instalar um V12 destas dimensões num pequeno automóvel exigiu alguma magia em termos de transmissão. E foi aí que entrou o especialista nesta matéria John Dodd, que encontrou uma solução que permitiu encaixar no imenso compartimento frontal o motor. Curiosamente, a frente exibia a grelha de um Rolls-Royce Corniche.

Esta primeira versão do The Beast sobreviveu apenas até 1974, tendo ardido no regresso de uma viagem à Suécia, a convite do Rei, que demonstrou interesse em ver ao vivo o imponente veículo. Em vez de seguir para a sucata, Dodd preferiu investir na sua recuperação, reconstruindo o veículo e aproveitando para introduzir algumas melhorias. A começar pelo motor, que continuou a ser um Rolls-Royce V12 com 27.000 cc, mas desta vez um Merlin, uma versão mais puxada por, em vez de ter de puxar por mais de 10 toneladas de um tanque, ter apenas que fazer girar o hélice dos aviões ingleses, no caso os Spitfire e os Hurricane. A transmissão continuou a ser um GM de três velocidades e o eixo rígido traseiro foi herdado de um dos camiões do construtor americano.

O novo V12, que nos aviões era sobrealimentado e debitava para cima de 1500 cv, sem a sobrealimentação ficava-se pelos 950 cv e mais de 1000 Nm de binário. Com estas especificações, The Beast viu as suas performances controladas pelo clube automóvel britânico. E atingiu 183 mph em 1973, ou seja, 294 km/h, o que para um veículo com a aerodinâmica de um frigorífico é um valor impressionante para os anos 70.

Além de impressionar pela potência e performance, The Beast chamou igualmente a atenção da Rolls-Royce, que não queria ver a grelha do Corniche a embelezar a frente do estranho veículo, o que a levou a processar Dodd. Este aproveitou o processo para explorar a publicidade em torno da sua potente criação e, apesar de ter sido obrigado pelo juiz a retirar a grelha da marca britânica, acabou por evitar fazê-lo, ao emigrar para Espanha, obviamente em companhia do carro.

Com a morte de John Dodd, em 2022, The Beast começou à procura de um novo dono, estando previsto ser leiloado a 9 de Março pela Car & Classic. E se o modelo trocou a polémica grelha do Corniche por outra ligeiramente diferente, que ainda hoje enverga, o estranho mas potente veículo continua a ser um Rolls-Royce no livrete emitido pela DVLA, o Instituto da Mobilidade e dos Transportes inglês.









O interior praticamente não sofreu alterações, pelo que continua a fazer lembrar o Scimitar








Este é o V12 Merlin com 27.000 cc que estava montado nos Spitfire e Hurricane, onde atingia 1500 cv devido ao turbocompressor. Aqui, sem turbo, debita 950 cv e um consumo de 4,55 litros por minuto.


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