Carrinho de brinquedo: Vespa 400


O continente europeu foi o maior campo de batalha da segunda grande guerra, países foram estilhaçados e tudo o que conhecíamos havia desaparecido diante dos nossos olhos.
Com o fim do conflito a Europa havia se tornado um quebra-cabeça difícil de ser montado. Física e economicamente abalada só o tempo e a capacidade humana construiria um continente completamente novo com a mesma intensidade com que o destruiu.
O mercado automobilístico estava paralisado desde o início dos conflitos, a partir do momento que os esforços passaram a ser voltados para suprir as necessidades bélicas e o desenvolvimento de novos automóveis não estava nem perto dos planos das fabricantes.
A maioria das fábricas instaladas na Europa estavam em ruínas e pouca matéria prima ainda existia após o fim da guerra, com um racionamento de materiais e uma engenhosidade de primeira foram surgindo os automóveis pós guerra.
Enrico Piaggio viu uma oportunidade para expandir os negócios da empresa. A Europa precisava de um meio de locomoção, um novo veículo que fosse capaz de suprir as necessidades básicas de transporte individual, com baixo preço e simplicidade de manutenção.
Através da experiência centenária naval e aeronáutica da Piaggio e a visão mercadológica de seu proprietário a marca entraria para um novo ramo: o das motocicletas

Com centenas de rodas utilizadas no trem de pouso traseiro dos bombardeiros e uma grande quantidade de motores para lançamento desses aviões estavam espalhados pela fábrica e o setor aeronáutico não estava mais nos objetivos da marca.
Através da ideia de utilizar esses componentes remanescente da guerra nasceu o conceito da Vespa. Com a ideia básica lançada não demoraria muito para Corradino D’Ascanio, um brilhante engenheiro aeronáutico, apresentar o projeto final da motocicleta.
Após identificar as maiores reclamações sobre as motocicletas da época e assim entender o porquê do restrito mercado que elas ocupavam,ele desenvolveu algo inédito que em pouco tempo se tornaria bem aceito no mercado mundial e um ícone do design.

Afim de explorar o mercado automobilístico e abocanhar uma fatia de um seguimento que estava crescendo a cada ano a Piaggio tratou de desenvolver um simpático compacto. A proposta não era de oferecer luxo e sim motorizar a população europeia, para isso a simplicidade era seu sobrenome.
Com linhas simplistas desenhadas pelo estúdio Siata, a harmonia estética se destacava formando um conjunto simpático, quase um carrinho de brinquedo. As portas se abriam ao estilo ‘suicida ’,
a grade dianteira acoplava o recipiente que armazenava a bateria, como uma gaveta e o teto de lona completava o pacote estético, quando aberto dava-se a impressão de uma carroceria targa, algo inexistente até então.
O interior era espartano, clean o painel trazia apenas o velocímetro e luzes de alerta, isso mesmo, sem marcador de combustível. Os bancos eram individuais e a parte da estrutura ficava a mostra.
Uma solução interessante estava no compartimento onde o estepe ficava, em baixo do banco do passageiro. Para acessa-lo era necessário rebater o banco que por sua vez dobrava-se completamente até encostar no porta-luvas, assim era possível acessar facilmente o estepe.
A Piaggio encontrou soluções inovadoras para um carro popular, montado sobre uma estrutura monobloco ele tinha suspensão independente nas quatro rodas, partida elétrica e pneus 4.40-10.
O motor era traseiro e foi projetado pelo pai da Vespa. Corradino desenvolveu um motor de dois tempos com dois cilindros em linha, arrefecido a ar com aproximadamente 400 cm³, o câmbio manual de três marchas oferecia engates precisos e não tinha a primeira marcha sincronizada, com cerca de 14 cv de potência o motorista do 400 não poderia ter a velocidade como prioridade, mas em questão de economia ele se equivalia a Vespa.
O salão do automóvel de Paris de 1957  foi o palco da estreia de grandes clássicos italianos, os stands eram rodeados pelos mais desejados esportivos da época: Lamborghini, Ferrari e Maserati. A Piaggio marcou presença e apresentou o três volumes junto a estreia do seu maior concorrente, o Fiat 500.
Batizado de Vespa 400, a Piaggio fez questão de colocar o nome de sua mais importante criação nessa nova empreitada, utilizando a fama da motocicleta para impulsionar as vendas do carrinho.
Logo após sua estreia os interessados passaram a encomendar suas unidades. O 400 estava disponível em duas versões, Lusso e Turismo, em pouco tempo ele passou a ser bem aceito no mercado, principalmente na Itália e França onde era fabricando em parceria com a ACMA em Fourchambault onde a Piaggio também produzia motocicletas.
A fabricante estava ganhando mercado fora da Europa, para crescer mundo a fora a empresa estava investindo pesado em publicidade, sempre unindo a jovialidade e personalidades famosas a sua motocicleta.
Com uma rede de concessionários nos Estados Unidos a divisão de motocicletas fazia sucesso em alguns estados do pais, principalmente na Califórnia e em Nova York . A grande aposta aconteceria durante 1959 e 1960 quando a Piaggio importou um lote de 1.700 unidades do 400 para o mercado norte-americano.
No meio dos grandes carros norte-americanos a Vespa 400 parecia ainda menor do que realmente era, nessa época uma serie de fabricantes europeias começaram a comercializar seus carros pela América do Norte

Aonde ela passava não tinha quem não olhasse, seja por curiosidade ou por simpatia.
Em 1961 a Europa era um novo continente, recuperada dos horrores da guerra a economia florescia e a indústria automobilística era o maior reflexo dessa prosperidade.
A Piaggio não via mais sua participação no seguimento dos populares. Com o lançamento de uma nova safra de veículos como Fiat 600, Mini e Renault 4 estavam dominando as ruas europeias e não havia mais espaço para o pequeno 400.
Após 28 mil unidades fabricadas o pequeno popular foi descontinuado, com características provindas do sucesso da Vespa e a experiência mercadológica da marca fez com que o carrinho fosse muito bem aceito, inclusive no mercado norte-americano


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Volkswagen Carocha 1300 com 2 Portas de 1968

UTIC

História das aeronaves militares Portuguesas