Volkswagen EA 48
Com receio que este «mini alemão» canibalizasse o Volkswagen
Carocha, a marca alemã cancelou a produção do Volkswagen EA 48. Conhece todos
os detalhes da sua história.
Desconhecido da maioria do público, o Volkswagen EA 48 (nome
de código) é um modelo que a marca alemã discretamente tem tentado esquecer. O
seu desenvolvimento arrancou em 1953 pelas mãos dos engenheiros Gustav Mayer e
Heinrich Siebt. A missão destes engenheiros era projetar um automóvel de quatro
lugares que fosse barato e fácil de manter. Conseguiram, mas o EA 48 nunca
chegou a ver a luz do dia…
Nascido numa época em que a indústria automóvel fervilhava
de inovações e em que a sua massificação dava os primeiros passos na Europa, o
Volkswagen EA 48 merece mais reconhecimento do que aquele que lhe tem sido
atribuído.
Um modelo à frente do
seu tempo
Em muitos aspetos, o EA 48 foi um modelo revolucionário para
época. Integralmente desenhado e desenvolvido pela Volkswagen sem qualquer
interferência da família Porsche, o Volkswagen EA 48 era um modelo citadino de
tração dianteira e baixo custo, que se tivesse avançado para a produção poderia
inclusivamente ter posto em causa o sucesso do Mini – que também recorria à
mesma fórmula (leia-se pequenas dimensões, tração e motor dianteiro). Chegaram
a apontar-lhe o nome Volkswagen 600, porém, como este modelo nunca chegou à
produção ficou-se pelo nome de código EA 48.
O EA 48 queria assumir-se como uma proposta ainda mais
acessível que o Volkswagen Carocha. A sua plataforma era totalmente nova e
recorria a soluções inovadoras para a época. Desde logo este pequeno modelo com
apenas 3,5 metros de comprimento (-35cm que o Carocha) recorria a suspensões do
tipo McPherson, algo quase inexistente na época. A adopção deste esquema de
suspensões permitiu aos engenheiros da marca libertar espaço na dianteira para
acomodar o pequeno motor de dois cilindros opostos refrigerado a ar com 18 cv
de potência e aumentar o espaço disponível a bordo. A principal preocupação da
equipa de desenvolvimento era mesmo libertar o maior espaço para o habitáculo.
Dito e feito.
Apesar da sua fraca potência (18cv às 3.800 rpm) graças ao
baixo peso do conjunto, apenas 574 kg, o pequeno alemão conseguia atingir os
100km/h. Contudo, o EA 48 sofria de um problema de aquecimento excessivo que a
marca só conseguiu resolver com recurso a um sistema de refrigeração do motor
emprestado pela Porsche.
Puro e duro
Na carroçaria e no interior a palavra de ordem foi
austeridade. Apesar de esteticamente interessante, todas as soluções adoptadas
no EA 48 visavam mais que tudo reduzir ao máximo os custos de produção e assim
baixar o preço de venda ao público. No interior, a austeridade também reinava e
não havia espaço para luxos. Os quatro bancos dos passageiros assemelhavam-se a
cadeiras de praia e os passageiros do banco traseiro nem tinham direito a
janelas.
Receio de canibalizar
o Carocha
Numa altura em que já se pensava que o Volkswagen EA 48 (ou
Volkswagen 600) ia avançar para a produção, Heinz Nordhoff, presidente da
Volkswagen, decidiu cancelar o projeto por dois motivos. O governo alemão temia
que o lançamento de um modelo com estas características colocasse em causa a
sobrevivência de marcas mais pequenas, e em segundo lugar, Nordhoff temia que o
Volkswagen EA 48 canibalizasse as vendas do Carocha – numa altura em que ainda
faltava amortizar parte dos custos de desenvolvimento do modelo.
No final dos anos 50 era lançado pela Morris no Reino Unido
o famoso Mini. Um modelo com um conceito em tudo semelhante ao EA 48, mas mais
evoluído – recorria a um motor de quatro cilindros refrigerado a líquido montado transversalmente (um feito inédito na
época). Será que se a Volkswagen tivesse lançado o seu modelo, o curso da
história automóvel tinha tomado outro rumo? Nunca saberemos.
Mas a semente da mudança estava lançada. Chegaram os anos 70
e a Volkswagen despediu-se de vez das motorizações traseiras refrigeradas a ar.
O resto é a história que todos nós conhecemos. O Golf e o Polo têm sido dos
modelos mais vendidos nos respetivos segmentos. Será que com o Volkswagen EA 48
iria ser igual? Muito provavelmente.
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